O palácio e os jardins dos Marqueses de Fronteira, uma peça exemplar da arquitetura civil no Portugal de seiscentos, encontram o seu modelo nos programas das festas efémeras, em que se comemorava de forma pública a entronização de um novo monarca ou os esponsórios reais onde se forjavam novas alianças políticas.
Nos painéis de azulejos das salas das batalhas, assistimos à representação das diversas vitórias das armas lusas que, entre os anos de 1644 e 1667, acabaram por confirmar a derrota espanhola e a restauração da independência do reino. Os textos das cartelas e os vários lances das batalhas celebram os grandes feitos das armas lusitanas, em que também participou o conde da Torre, que o regente D. Pedro II vai agraciar com o título de Marquês de Fronteira.

Apesar da figuração ingénua e da inexistência de uma perspetiva única, há um enorme cuidado em identificar os principais intervenientes nas batalhas. Como nas crónicas oficiais do reino, a identificação do valor militar foi uma estratégia fundamental para a consolidação do prestígio dos principais atores da nova corte portuguesa.
As portas dessa sala, na qual provavelmente esteve abrigada a coleção de pinturas de D. João Mascarenhas, abrem-se para uma formosa varanda decorada com azulejos e esculturas. Na parte superior, meios corpos de estuque representam os 12 imperadores romanos, envoltos por uma coroa de flores e frutos, numa recriação dos famosos medalhões italianos dos Della Robia.
Na sua configuração arquitetónica, recordam o prémio da coroa de louros atribuído pelos romanos ao general vitorioso, numa cerimónia pública que serviu de modelo para as entradas régias um pouco por toda a Europa. Aqui, na Quinta dos Marqueses, os bustos dos imperadores reproduzem as gravuras realizadas a partir dos desenhos de Raffaello Schiaminossi que ilustram a obra do historiador Suetónio, reeditada nos princípios do século XVII. Por essa mesma ordem de razão, D. João IV também foi representado com uma coroa de louros na varanda dos reis, que domina a vista para o jardim formal da quinta.

Os mesmos festões de flores e frutos deste triunfo multiplicam-se no pórtico da capela e envolvem as representações dos azulejos nos jardins, transformando a arquitetura num cenário para as festas do casamento de D. Fernando de Mascarenhas com D. Joana Leonor, celebradas em 1673.
BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL
MANGUCCI, Celso. Curso: Azulejos de Lisboa, obra coletiva. O azulejo e a arquitectura. Lisboa: Museu da Cidade, 2019.
