A pintura de retratos tem alguma tradição na azulejaria portuguesa, e está frequentemente associados a uma narrativa histórica, na qual os personagens se destacam por representar as melhores qualidades de uma ordem monástica ou do poder político. Para o convento de Arraiolos, o pintor espanhol Gabriel del Barco realizou uma série de retratos dos varões ilustres da Congregação dos Lóios, acompanhada por uma galeria de papas e cardeais ligados à congregação de São Jorge de Veneza. Quase um século depois, o pintor Francisco de Paula e Oliveira, na Real Fábrica de Louça do Rato, produziu uma coleção de retratos com os reis de Portugal que agora se podem observar nos jardins do Palácio Galveias, em Lisboa.

Mais raros, os retratos equestres convocam essa mesma matriz histórica, com o acréscimo de representarem o chefe militar em ação de comando. No caso do retrato do jovem Fernando Mascarenhas, sucessor do primeiro Marquês de Fronteira, os azulejos o colocam ao lado dos doze cavaleiros míticos que, como cantou o poeta Camões, resgataram a honra de algumas donzelas de Inglaterra.
Genuína história familiar, na moldura do painel estão representados os retratos de 11 ascendentes do futuro marquês. A árvore genealógica principia com D. Francisco Mascarenhas, 1º Conde da Horta, que depois de combater em Alcácer-Quibir, ao lado de D. Sebastião, foi encarregado por Felipe I de Portugal para o fazer jurar como novo monarca em todo o Estado da Índia. Seguem-se D. Martinho Mascarenhas, 2º Conde de Santa Cruz; D. João Mascarenhas Castelo Branco da Costa, 2º Conde de Palma; D. Vasco Mascarenhas, 1º Conde de Óbidos; D. Francisco de Mascarenhas, 1º Conde de Castelo Novo; D. Fernando Mascarenhas, 1º Conde da Torre; D. Fernando Mascarenhas, 1º Conde de Serém; D. Francisco de Mascarenhas, 1º Conde de Coculim; D. João Mascarenhas, 3º Conde do Sabugal e D. Jorge Mascarenhas, 1º Marquês de Montalvão. Por último, na parte superior, o circulo fecha com o retrato do pai, D. João Mascarenhas, 1º Marquês de Fronteira, um dos principais aliados do regente D. Pedro II.

Realizado a partir de gravuras, por pintores ingénuos, não se pode esperar verossimilhança nos traços fisionómicos de Fernando Mascarenhas, então apenas com 15 anos. Inserido num longo programa de exaltação da aristocracia portuguesa, o retrato faz uso de uma receita consagrada que representa o vigor do fidalgo pela projeção do cavalo em direção ao observador. Adivinha-se um futuro radioso para a dinastia de Bragança e para o jovem marquês.
BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL
NEVES, José Cassiano. The palace and gardens of Fronteira: seventeenth and eighteenth century Portuguese style. 3. ed. revista por Vera Mendes e Fernando Mascarenhas. Fotografia de Nicolas Sapieha. Lisboa: Quetzal Editores, 1995. ISBN 978-0935748987.
