Os jardins da Quinta dos Marqueses de Fronteira, em Lisboa, formam um conjunto único que combina escultura, azulejos e embrechados para celebrar o triunfo dos heróis das Guerras da Restauração (1640-1668) e o início da nova dinastia dos Braganças.
A grande varanda dos reis, que permite uma vista maravilhosa sobre os jardins, é também uma galeria da história de Portugal. Formada pela sequência de bustos reais, conta a história desde o nascimento da nação até o delicado momento político da regência de D. Pedro II. Como o objetivo principal do conjunto era apagar o tempo da anexação espanhola, não fazia sentido ter os retratos dos monarcas da União Ibérica.
Para reforçar a importância da conquista bélica, o percurso começa na torre oeste, com o busto do Conde D. Henrique de Borgonha, pai do primeiro rei de Portugal, e termina na outra ponta, com o de D. Nuno Álvares Pereira, o herói militar responsável pela estrondosa vitória de Aljubarrota, em 1385, que ditou o fim das pretensões de Castela.

Embaixo, nos belos arcos do tanque, doze cavaleiros lusos estão representados nos azulejos. Tal como cantou o poeta Luís de Camões nos Lusíadas, visitaram a Inglaterra, a pedido do Duque de Lencastre, para defender a honra de outras tantas donzelas. Formam uma mítica guarda de honra que representa o melhor do espírito cavalheiresco da aristocracia portuguesa.
Como é sabido, o momento político era delicado e, para além da guerra, D. Pedro II, preocupado com a impossibilidade de o irmão D. Afonso VI deixar descendência e garantir a futura independência do reino, organizou um golpe de Estado. Pela sua participação nas campanhas militares no Alentejo e pelo seu apoio político, João de Mascarenhas foi agraciado com o título de Marquês da Fronteira. Nos azulejos, tanto o marquês quanto o filho estão retratados ao lado dos doze cavaleiros.
O futuro do reino e o futuro da casa de Fronteira parecem assegurados, e os jardins estavam prontos para a celebração das núpcias do segundo marquês, D. Fernando de Mascarenhas, com D. Joana Leonor, filha dos Condes de Ataíde, em 1672.

Apesar da ingenuidade da representação pictórica, é um dos mais importantes conjuntos de azulejos realizados para palácios de Portugal, numa demonstração da coerência que presidia a formulação desse tipo de programa iconográfico. Neste caso, é notável como a arquitetura do jardim e as construções efémeras erguidas para celebrar as entradas régias servem de mero suporte para o discurso das imagens que celebram o triunfo do amor e da paz.
BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL
NEVES, José Cassiano. The palace and gardens of Fronteira: seventeenth and eighteenth century Portuguese style. 3ª editada e revista por Vera Mendes e Fernando Mascarenhas. Fotografia de Nicolas Sapieha. Lisboa: Quetzal Editores, 1995. ISBN 978-0935748987.
