Os azulejos realizados pela sociedade formada entre os mestres ladrilhadores Bartolomeu Antunes, João Antunes e João Nunes de Oliveira para o convento de Nossa Senhora das Necessidades em Lisboa enquadram-se entre as encomendas produzidas para qualificar espaços pedagógicos.
A encomenda para o convento da Congregação do Oratório de São Felipe Néri é exatamente contemporânea às campanhas dos azulejos realizados para a Aula da Esfera de Lisboa e para o Colégio do Espírito Santo de Évora, com as aulas das Necessidades a serem inauguradas em junho de 1750.
No mesmo convento, havia uma desaparecida “Casa da Matemática”, ou melhor, um moderno Gabinete de Física, com diversos instrumentos destinados às palestras públicas, associado ao percurso dos influentes professores João Batista e Teodoro de Almeida (1722-1804), naquela que foi uma das principais iniciativas de apoio da Casa Real à modernização da prática científica em Portugal, em meados do século XVIII.
A implementação desse projeto pioneiro e elitista, com a encenação de experiências para alunos e convidados da corte, como as encenadas nos territórios administrados pela monarquia de Habsburgo, foi certamente influenciada pela entourage da rainha D. Maria Ana de Áustria.
Infelizmente danificado por infiltrações e posteriormente eliminado, o Gabinete de Física possuía um teto decorado com pinturas, onde se representou a Divina Sapiência, acompanhada de 28 figuras de diversas Artes Liberais e por oito alegorias de virtudes, numa obra do pintor Francisco Pinto Pereira que apenas conhecemos pela avaliação dos pintores Inácio de Oliveira Bernardes e João dos Santos. De todo modo, a atribuição da origem do conhecimento à sabedoria divina é a matriz recorrente dos programas iconográficos de bibliotecas e salas académicas dessa época.
Os painéis de azulejos das aulas, atualmente dispersos por duas salas, também sofreram muitas alterações, e apenas é possível determinar que organizavam um discurso em que as alegorias das ciências (Lógica, Arquitetura, Botânica) estão acompanhadas pelas virtudes (Esperança, Fé, Constância, Sapiência), naquela que podemos considerar a estrutura básica do discurso visual da pedagogia humanista.
Com uma inflexão em relação ao conjunto iconográfico das aulas dos jesuítas, as molduras dos painéis incluem um amplo leque de filósofos, historiadores e poetas da Antiguidade: Aristóteles, Aristipo, Epicuro, Ésquines, Demócrito, Cícero, Horácio, Terêncio, Eurípides, Virgílio, Tito Lívio, Crasso, Marcial e Tucídides, demonstrando uma grande abertura ao ecletismo que vai caracterizar o ensino da Filosofia no período.
Pelo que conhecemos da documentação de constituição da sociedade dos mestres ladrilhadores, esses painéis foram provavelmente executados pelo pintor Joaquim de Brito e Silva, a quem também atribuímos os painéis da Aula da Esfera do colégio jesuíta de Santo Antão-o-Novo.
BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL
MANGUCCI, Celso. “A estratégia de Bartolomeu Antunes, mestre ladrilhador do paço (1688-1753)” in Al-madan, n. 12, 2003, pp. 155-168. ISSN 0871-066X.
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