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Os arquitetos e os azulejos

Os azulejos realizados para as escadas de aparato dos palácios lisboetas setecentistas são um dos exemplos mais evidentes da estreita relação entre o desenho da arquitetura e a ornamentação que enobrece esses espaços.

Os azulejos realizados para as escadas de aparato dos palácios lisboetas setecentistas são um dos exemplos mais evidentes da estreita relação entre o desenho da arquitetura e a ornamentação que enobrece esses espaços. São também uma evidência de que a renovação da azulejaria se fez, muitas vezes, pela mão dos arquitetos.

É nas escadarias que se inscrevem as magníficas figuras de convite que representavam os criados, ricamente vestidos, sempre prontos para receber os convidados de palácios e quintas de recreio, mesmo quando os proprietários não estavam presentes.

Palácio Souto Mexia, Nicolau de Freitas, c. 1740. CM
Palácio Souto Mexia, Nicolau de Freitas, c. 1740. Fotografia © CM.

Como nos conta o pintor lisboeta Jerónimo de Andrade, na biografia do seu colega de profissão Vitorino Manuel da Serra (1692-1747), o pintor teria se especializado, como muitos da sua geração, na pintura de tetos em perspetiva, com representações de arquitetura fingida.

Embora atualmente não se possa atribuir nenhuma obra a Manuel da Serra, também teria  sido um dos grandes responsáveis pela introdução da ornamentação rocaille, ao realizar os cartões que serviam de modelos para os pintores de azulejos:

 Ele foi o primeiro a introduzir em Lisboa o primoroso ornato francês, como se observa elegantemente desempenhado no Palácio do Marquês de Cascais, em que ao presente assiste o Excelentíssimo Duque de Souto Mayor, Embaixador de Castela. Deste novo estilo pintou muito nas casas de Vieira, e lhe deu os riscos para os azulejos, empresa da sua ideia, e novo primor do seu discurso.

Jacques-François Blondel. De la Distribution des Maisons de Plaisance, 1737
Jacques-François Blondel. De la distribution des maisons de plaisance, 1737.

Nas escadarias nobres dos palácios lisboetas setecentistas foram utilizados corrimões de ferro com aplicações de bronze dourados. Como se pode ver no Palácio Pimenta, atual sede do Museu de Lisboa, o desenho desses corrimões foi inspirado no tratado De la distribution des maisons de plaisance, et de la décoration des édifices en général, do arquiteto francês Jacques-François Blondel, publicado em 1737. Para promover a continuidade com o espaço ao redor, os azulejos repetem o vocabulário ornamental e também os apontamentos dourados. É possível ainda que a indicação de que Vitorino Manuel da Serra trabalhava “na casa de Vieira” seja uma referência ao arquiteto régio Custódio Vieira [1690-1744], e assim poderíamos estabelecer uma ligação entre a atividade do arquiteto como planeador dos programas decorativos e o desenho de conceção de painéis decorativos por parte de um pintor decorador.

BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL

MANGUCCI, Celso. Os arquitetos e a direção das campanhas decorativas com azulejos“, in ARTis ON, n. 6, Junho 2018, pp. 25-31.

Lisboa, Museu de Lisboa

2 replies on “Os arquitetos e os azulejos”

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