Durante o século I, a utilização de silhares almofadados foi uma característica marcante da arquitectura romana. A pedra assim trabalhada atribuía à superfície parietal um efeito volumétrico, conferindo-lhe uma maior monumentalidade e, simultaneamente, criava um jogo de luz e sombra que se ia transformando ao longo do dia, permitindo diferentes efeitos visuais conforme a exposição solar. A expressividade plástica e visual dessa decoração, aliada às diferentes texturas que se poderiam criar durante o processo construtivo, despertou particular interesse nos arquitectos italianos dos finais do século XV. O Palazzo Medici, de autoria de Michelozzo Michelozzi, o Palazzo Pitti, de Filippo Brunelleschi, ou ainda, o Palazzo Strozzi, de Benedetto da Maiano, são alguns exemplos da utilização desse recurso decorativo como forma de conferir grandiosidade aos edifícios.

Com o desenvolvimento artístico, o almofadado rústico e de grande volumetria foi reduzido na escala, regularizou-se e ganhou uma expressão geométrica mais pura, passando a ser representado por uma pirâmide quadrangular. Um dos exemplos mais icónicos é o Palazzo dei Diamanti, de autoria de Biagio Rossetti, que tem toda a fachada coberta com esse elemento, sendo que o próprio nome do palácio foi sugerido pelo ornamento. Em Portugal, influenciado pelos modelos italianos, o caso mais conhecido é o da Casa dos Bicos, em Lisboa, edificada em 1522, com projecto atribuído ao arquiteto Francisco de Arruda.

A utilização desse elemento decorativo não se resumiu à aplicação em cantaria de fachadas de habitações nobres e, nas últimas décadas do século XVI, voltou a ganhar destaque mediante a transposição para o azulejo, desta vez, para o revestimento interior de espaços religiosos. Segundo o historiador Santos Simões, a padronagem de “clavos” teria sido primeiro realizada nas olarias de Talavera, para depois ser produzida em Sevilha, de onde foi importada para a decoração da igreja jesuíta de São Roque, em Lisboa, num revestimento datado de 1596.
Nos azulejos, o motivo decorativo principal de ponta de diamante forma uma pirâmide, cujo topo encontra-se seccionado e preenchido por um elemento vegetalista. Essa decoração central pode ganhar alguma variação, mas a versão mais comum é uma pequena flor com oito pontas, com a curvatura das pétalas provoca certa sensação de movimento. A representação piramidal é acentuada pelo contraste entre o branco e o azul como forma de reforçar o carácter tridimensional do desenho, que o distingue da tradicional azulejaria de padrão do século XVII.

A diversidade interpretativa dos motivos ornamentais é de tal ordem que será mais correcto descrever o padrão como uma família decorativa, mais do que um simples conjunto de variações realizadas a partir de uma base comum. Com o passar dos anos, foram sendo adicionadas molduras, elementos vegetalistas, combinações geométricas, em alguns casos o formato piramidal foi substituído por um óvulo, ou ainda por uma pirâmide de base triangular acompanhada com folhas de parras.
Nas últimas décadas do século XIX, o padrão voltou a decorar as fachadas dos edifícios urbanos e no século XX vai ser utilizado na obra que o pintor e ceramista Manuel Cargaleiro realizou para a estação de metro de Lisboa do Colégio Militar, onde foi, uma vez mais, reinterpretado com a adição de elementos simbólicos e mundanos.

BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL
SIMÕES, João Miguel dos Santos. Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979.
TOUSSAINT, Michel. Significados do azulejo na arquitetura. Portugal. Século XX, in O azulejo em Portugal no século XX. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Inapa, 2000, pp. 239-255.
