No convento de Nossa Senhora da Conceição de Beja, toda a igreja, incluindo o coro e parte da casa do capítulo, era revestida com padrões geométricos de azulejos, provavelmente encomendados na primeira década do século XVII.
Esses conjuntos começaram a ser eliminados pelas intervenções dos anos 1740-1741, mas foram posteriormente reaplicados, na desastrosa intervenção de 1895. É por essa razão que o claustro atualmente apresenta azulejos antigos dispostos em padrões geométricos modernos de ritmos intensos.
Apesar da relativa simplicidade técnica desses conjuntos, as composições geométricas são uma manifestação da cultura ornamental codificada pelos arquitetos, a qual tinha por objetivo uma decoração ajustada às ordens clássicas.
É importante lembrar que os azulejos com ponta de diamante, um padrão provavelmente criado nas oficinas de Talavera por volta de 1560, foram inspirados pelo influente tratado I Sette libri dell’architettura de Sebastiano Serlio. Essa codificação de uma cultura ornamental acompanhou uma mudança sentida a partir de meados do século XVI, quando os arquitetos assumiram a coordenação de todo o projeto decorativo dos edifícios.

Mais importante, os conjuntos de azulejos verdes e brancos ou azuis e brancos frequentemente recebiam uma decoração dourada, aplicada já com os azulejos na superfície mural, sem relação com o processo de fabrico da cerâmica. Esses ornamentos dourados, relativamente frágeis, foram desaparecendo ao longo dos anos, mas ainda podem ser observados na casa do capítulo de Beja.
Os azulejos dourados conferiam um carácter verdadeiramente opulento à decoração, subvertendo por completo as supostas severidade e simplicidade de tais composições geométricas.
BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL
SILVA, Libório Manuel & CARVALHO, Rosário Salema. Azulejos, Maravilhas de Portugal. Vila Nova de Famalicão: Centro Atlântico, 2017. ISBN 978-989-615213-0.
MANGUCCI, Celso. “Os arquitectos e a direcção das campanhas decorativas com azulejos” in ARTis ON, n. 6, junho de 2018, pp. 25-31.