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As quatro idades do amor

Com alguma frequência, a pintura de género parece extravasar o domínio das artes plásticas para reflectir novas sensibilidades sociais.

Com alguma frequência, a pintura de género parece extravasar o domínio das artes plásticas para reflectir novas sensibilidades sociais. As singeries, por exemplo, dedicam-se à sátira de costumes enquanto a chinoiserie almeja a criação de um universo pacífico e harmonioso de fantasia. No caso das conversas e festas galantes, trata-se de retratar a galanteria. Mais propriamente, a cortesia amorosa da sociedade civilizada.

Para a realização de obras de um novo género, o pintor tem de se comprometer com a divulgação de um novo gosto. Ao mesmo tempo que Nicolas Lancret realizava o conjunto de pinturas Les quatre âges de la vie, solicitou que Nicolas Larmessin as reproduzisse em gravuras, para divulgá-las para um público mais vasto, informado através da imprensa periódica especializada. Em julho de 1735, a revista Mercure de France, apresentava favoravelmente a nova criação do pintor de festas galantes:

São as quatro idades caracterizadas pelos seus divertimentos: os jogos da Infância, a coquetterie nascente da adolescência, a galanteria da juventude, e a conversa dos mais velhos… Na escolha engenhosa dos personagens e nas suas expressões finas e delicadas, que nos oferecem apenas coisas agradáveis, reconhecemos o gosto do senhor Lancret, cujo talento amável obteve até aqui o aplauso do público.

Adolescência. Great Lisbon Workshop. Joaquim Brito e Silva, c. 1760. © Arquivo do Ecomuseu Municipal do Seixal
Adolescência. Grande Oficina de Lisboa. Joaquim Brito e Silva, c. 1760. © Arquivo do Ecomuseu Municipal do Seixal.

Para não haver dúvidas dos objectivos de cada uma das representações, as gravuras são acompanhadas, na legenda, por alguns versos. Na que representa a adolescência, as damas estão a vestir-se com elegância, preparando-se para um serão agradável. Os mais jovens começam a ter consciência das regras da vida em sociedade: “Desde que a luz da razão nos esclarece,/ obriga-nos a conquistar o prazer e a honra./ Tentamos nos embelezar e estudamos para nos tornar agradáveis./ Do olhar dos outros depende a nossa felicidade”.

Se com Antoine Watteau, nas conversas galantes, o divertimento é fugídio, sedutor e, por vezes, melancólico, nas obras de Lancret, seu discípulo, já fazem parte da natureza humana e encontram o seu lugar adequado em cada uma das etapas da vida.

Como demonstra o painel agora exposto no Museu Municipal do Seixal, para corresponder aos desejos da clientela portuguesa, os pintores de azulejo foram chamados a reproduzir com algum cuidado as obras do pintor francês. Fizeram-no, obviamente, com a intenção de participar na modernidade desse novo género cultural.

Adolescence. Nicholas Larmessin after Nicolas Lancret, 1735. © Rijskmuseum
L’Adolescence. Nicholas Larmessin a partir de Nicolas Lancret, 1735. © Rijskmuseum.

BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL

MANGUCCI, Celso. “As gravuras de Nicolas Lancret e os azulejos da Quinta da Trindade, no Seixal ” in Al-madan, n. 13, 2005, pp. 113-118. ISSN 0871-066X.

Seixal, Ecomuseu Municipal do Seixal

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