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O palácio galante

A presença da sociedade polida, bem-vestida e bem-educada é um complemento essencial da arquitetura nobre.

D. Francisco de Portugal, na sua Arte de galanteria, ao louvar os momentos dos encontros e das festas na vida da corte, relembra-nos que os palácios dos reis e da nobreza são o lugar de expressão e aperfeiçoamento da vida social. Sem a conduta galante, um palácio perderia a sua verdadeira essência:

Acudir las noches a la antecámara, después de ser entretenimiento, es una disciplina de los discursos, que allí se cuestionea lo polido, se afina lo discreto, se envían recados, se hacen motes, se repiten versos y se conciertan fiestas y es lo que ennoblece la casa de los reyes, que no estando acompañadas de la nobleza nada tiene de grande, […].

Nobleman standing with his sword, plumed hat, ruff, jerkin, breeches, and boots. Jacques Callot, c. 1620-1623 © Rijksmuseum.
Nobre de pé com sua espada, com chapéu de plumas, casaca, calções e botas. Jacques Callot, c. 1620-1623. © Rijksmuseum.

Os cortesãos são tão importantes para o brilho da vida cortesã dos palácios que não há maior elogio que o de ser reconhecido como perfeito cavaleiro, como o próprio autor, com pouca modéstia, faz questão de divulgar:

Que no es de poca estimación con lo que, por veces, se oyó a Sus Altezas: «Sólo cuando don Francisco de Portugal está en Madrid parece esto palacio».

Jovem elegantemente vestida, com a mão esquerda com um “muff” e a direita no quadril. Jacques Callot, c. 1620-1623. © Rijksmuseum.

Na entrada que abre para o grande jardim da Quinta dos Marqueses de Fronteira estão representados diversos cavaleiros e damas do Ducado de Lorena, copiando as majestosas gravuras de Jacques Callot, natural do território. Apesar do período conturbado de guerra, a nobreza do ducado gozou da fama de vestirem-se com grande galhardia, com os homens primorosamente ataviados com penas, fitas e rosetas nos sapatos, e as mulheres com enfeites de renda nos cabelos e colares de pérolas.

Utilizando um artifício literário comum, nos pequenos painéis sob as janelas, representam-se homens e mulheres a beber, a fumar e a comportarem-se de forma licenciosa. São o que D. Francisco de Portugal chamaria de delitos de civilidade e valorizam, por antinomia, as qualidades galantes vividas na Quinta dos Marqueses de Fronteira.

BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL

NEVES, José Cassiano. The palace and gardens of Fronteira: seventeenth and eighteenth century Portuguese style. 3rd rev. ed. by Vera Mendes and Fernando Mascarenhas. Photography by Nicolas Sapieha. Lisboa: Quetzal Editores, 1995. ISBN 978-0935748987.

PORTUGAL, D. Francisco de. Arte de galanteria. Edição e notas de José Adriano de Freitas Carvalho. Porto: Centro Inter-Universitário de História da Espiritualidade, 2012.

CORREIA, Ana Paula Rebelo. Histoires en azulejos: Miroir et mémoire de la gravure européenne. Tese de doutoramento. Louvain: Université Catholique de Louvain, 2005.

Lisbon, Quinta dos Marqueses de Fronteira

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